segunda-feira, 27 de julho de 2020

Educação Após Auschwitz




Theodor Adorno




A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação. De tal modo ela precede quaisquer outras que creio não ser possível nem necessário justificá-la. Não consigo entender como até hoje mereceu tão pouca atenção. Justificá-la teria algo de monstruoso em vista de toda monstruosidade ocorrida. Mas a pouca consciência existente em relação a essa exigência e as questões que ela levanta provam que a monstruosidade não calou fundo nas pessoas, sintoma da persistência da possibilidade de que se repita no que depender do estado de consciência e de inconsciência das pessoas. Qualquer debate acerca de metas educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a educação. Fala-se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de uma ameaça, pois Auschwitz foi a regressão; a barbárie continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta regressão. E isto que apavora. Apesar da não-visibilidade atual dos infortúnios, a pressão social continua se impondo. Ela impele as pessoas em direção ao que é indescritível e que, nos termos da história mundial, culminaria em Auschwitz.



quinta-feira, 9 de julho de 2020

A BANALIDADE DO MAL


A BANALIDADE DO MAL SEGUNDO HANNAH ARENDT

QUEM ERA HANNAH ARENDT?

De origem judaica Hannah Arendt nasceu na cidade de Hannover-Alemanha em 1906, e em 1924, seu pai faleceu cedo, desta forma foi criada pela mãe que desde o principio a criou com ideais social-democratas. Ao completar 17 anos instalou-se em Berlin com a finalidade de estudar filosofia e teologia. Logo começou os estudos na universidade de Marburg.
            Mudou-se para a cidade de Berlim em 1929, com o auge do nazismo transferiu-se para Paris, onde obteve contato com inúmeros intelectuais. Ao decorrer a Guerra, no período em que a França aliou-se com a Alemanha, Hannah Arendt foi enviada a um campo de concentração por ser considerada uma estrangeira suspeita. Porém em 1941, fugiu para Nova York, e, terminada a guerra retorna à Alemanha.
            Sua produção literária foi extensa na área filosófica e tinha contatos com os grandes filósofos do século XX, contudo, ela não se incluía neste circulo, pois preferia se intitular cientista-política. Segundo suas próprias palavras (Arendt, 2008):
“Minha profissão, se é que se pode chamar assim, é a teoria política (...).  Para mim, o importante é compreender. Escrever é uma questão de procurar essa compreensão (...) o importante é o processo de pensar. Se consigo expressar de modo razoável meu processo de pensamento por escrito, isso me deixa satisfeita”.  

2 A BANALIDADE DO MAL SEGUNDO HANNAH ARENDT

            Hannah Arendt presenciou em todas as etapas o julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann na função de correspondente do jornal americano The New Yorker e também o entrevistou.
            A conduta de Adolf Eichmann ao logo do processo até sua morte por enforcamento,  era de um indivíduo incapaz de realizar o ato de pensar e constituir um juízo reflexivo e crítico, nas palavras Arendt “o executante era ordinário, comum, nem demoníaco, nem monstruoso”.  Suas palavras, suas formas de se expressar eram feitas por sentenças prontas, praticamente robotizadas, por exemplo: minha honra é minha lealdade.          
            Tamanha era a lealdade do oficial nazista que o fez nunca tomar decisões por si só, pois era preciso realizar meticulosamente as ordens passadas a ele, cumprindo dessa forma o juramento irrestrito de fidelidade ao partido que o nomeara oficial da Gestapo. O mesmo dizia que a cega realização das ordens proferidas a ele por seus superiores poderia ser colacionada a obediência de um cadáver, foi ao ouvir isto que Hannah Arendt adotou o termo “banalidade do mal”.
            Neste diapasão Hannah Arendt, compreendeu haver uma distinção no patamar de responsabilidade dos chefes do movimento totalitário e dos indivíduos que executavam burocraticamente todas as ordens que lhe eram incumbidas pela cúpula nazista. Desta forma, é demonstrado o quanto deveria ser analisado a questão da ligação entre o pensar e o agir.
            Quanto a essa questão (Arendt, 2008):
“Será que a natureza da atividade do pensar, o hábito de examinar, refletir sobre qualquer acontecimento, poderia condicionar as pessoas e não fazer o mal? Estará entre os atributos da atividade do pensar, em sua natureza intrínseca, a possibilidade de evitar que se faça o mal? Ou será que podemos detectar uma das expressões do mal, qual seja, o mal banal, como fruto do não-exercício do pensar?”
            Inúmeras obras foram escritas sobre Hannah Arendr. É preciso evidenciar que ainda não é conhecido o suficiente desta mulher que faleceu em 1975. Todos os seus ensinamentos e obras a consagram como uma das mais autênticas pensadoras de sua geração, e torna-se imprescindível escutar a sua voz com bem atentamente no alvorecer desse milênio cheio de incertezas.









quinta-feira, 2 de julho de 2020

CULTURA DE MASSA



Cultura de Massa

A Cultura de Massa (ou “cultura pop”) é o produto realizado pela Indústria Cultural. Tem o intuito de atingir a massa social, considerando “massa” em seu sentido de coesão e opacidade.

Portanto, cultura de massas é o meio e o fim pelo qual se submetem as mais variadas expressões culturais a um ideal comum e homogêneo.

A cultura de massas tem a propriedade de absorver os antagonismos e transcender distinções sociais, étnicas, sexuais, etárias, etc., transformando-os em produtos para o consumo num mundo de consumidores livres.

Cultura de Massa e Indústria Cultural
A cultura de massas está intimamente ligada ao advento da modernidade. No século XIX, esse termo foi utilizado para fazer antagonismo entre a educação recebida pelas massas à educação recebida pelas elites (cultura erudita).

A expressão “cultura de massas” passou a designar também o consumo de alguns bens e serviços da sociedade industrializada.

O termo, tal como é visto atualmente, especialmente por sua natureza comercial e manipulativa, consolidou-se após a II Guerra Mundial.

Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973) fundaram a Escola de Frankfurt (1923) e juntos criaram o termo “Indústria Cultural”.

Esse termo faz referência aos grandes conglomerados midiáticos globais detentores dos meios de comunicação de massa. Eles são utilizados na padronização de produtos, notícias, serviços, etc.

Em suma, a cultura de massas é um produto padronizado e pré-definido para o consumo imediato. Muitas vezes, é considerado como algo trivial, tal qual ouvir uma música ou assistir um programa de televisão.


Cultura Erudita e Cultura Popular
Vale lembrar que a cultura de massa é muito distinta da “cultura erudita” e da “cultura popular”. Entretanto, ela incorpora seus atributos, banalizando-os e esvaziando-os de seu conteúdo original.

Isso porque ela valoriza somente os aspectos que caem no gosto da massa e possuem potencial para lucro. Assim, ela oprime outras manifestações culturais que vão perdendo espaço e legitimação social paulatinamente.

Cultura de Massa e o Capitalismo
Como vimos, a cultura de massas padroniza e homogeneíza os produtos. Contudo, isso gera o mesmo efeito nos consumidores, os quais são induzidos a desejos e necessidades superficiais. Tudo isso tem uma meta muito clara: as vendas e o consumo.

Desse modo, substitui-se a vasta gama de cultura erudita, cultura popular e folclórica, por simulações dessas culturas autênticas. Esses simulacros devem satisfazer um denominador comum, para um consumidor comum.

Isso sugere a simplificação dessas culturas para vendê-las em larga escala, segundo a lógica do capitalismo industrial e financeiro.


Assume-se que a cultura de massas agrada uma grande maioria anônima e amorfa de consumidores. Porém, na verdade, ela mascara os interesses de lucro fácil e garantido para os referidos conglomerados midiáticos mundiais.

Portanto, isso explica o caráter mercantil, alienante e manipulador da Indústria Cultural. Ela é o principal responsável pela padronização dos indivíduos em nome do lucro e em detrimento do real valor artístico do produto.

Cultura de Massa e as Mídias
Outro fato bastante conhecido sobre a cultura de massas é sua associação aos meios de comunicação de massas.

As inovações tecnológicas, como o cinema, o rádio, a televisão e, recentemente, a internet, aceleraram ainda mais o processo de homogeneização cultural. Note que estas inovações foram utilizadas desde os primórdios com finalidades políticas.

As mídias são as porta vozes da Indústria Cultural e dominam o campo da comunicação. Elas se tornam sobrevalorizadas em relação aos receptores das mensagens, legitimando-se e ficando mais forte na mesma medida em que os receptores se tornam iguais e fracos.


Além de homogeneizar os padrões culturais, os canais midiáticos são os principais responsáveis pela alienação dos consumidores.

Isso tudo por meio dos produtos culturais em série, os quais não conseguem mais enxergar toda a cadeia de eventos que envolve a Indústria Cultural e seu produto: a cultura de massas.