A
exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação. De
tal modo ela precede quaisquer outras que creio não ser possível nem necessário
justificá-la. Não consigo entender como até hoje mereceu tão pouca atenção.
Justificá-la teria algo de monstruoso em vista de toda monstruosidade ocorrida.
Mas a pouca consciência existente em relação a essa exigência e as questões que
ela levanta provam que a monstruosidade não calou fundo nas pessoas, sintoma da
persistência da possibilidade de que se repita no que depender do estado de
consciência e de inconsciência das pessoas. Qualquer debate acerca de metas
educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que
Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a
educação. Fala-se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de
uma ameaça, pois Auschwitz foi a regressão; a barbárie continuará existindo
enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta
regressão. E isto que apavora. Apesar da não-visibilidade atual dos
infortúnios, a pressão social continua se impondo. Ela impele as pessoas em
direção ao que é indescritível e que, nos termos da história mundial,
culminaria em Auschwitz.
De origem judaica Hannah Arendt nasceu na cidade de Hannover-Alemanha em
1906, e em 1924, seu pai faleceu cedo, desta forma foi criada pela mãe que
desde o principio a criou com ideais social-democratas. Ao completar 17 anos
instalou-se em Berlin com a finalidade de estudar filosofia e teologia. Logo
começou os estudos na universidade de Marburg.
Mudou-se para a cidade de Berlim em 1929, com o auge do nazismo transferiu-se
para Paris, onde obteve contato com inúmeros intelectuais. Ao decorrer a
Guerra, no período em que a França aliou-se com a Alemanha, Hannah Arendt foi
enviada a um campo de concentração por ser considerada uma estrangeira
suspeita. Porém em 1941, fugiu para Nova York, e, terminada a guerra retorna à
Alemanha.
Sua
produção literária foi extensa na área filosófica e tinha contatos com os
grandes filósofos do século XX, contudo, ela não se incluía neste circulo, pois
preferia se intitular cientista-política. Segundo suas próprias palavras
(Arendt, 2008):
“Minha profissão, se é que se pode chamar assim, é a teoria política
(...). Para mim, o importante é
compreender. Escrever é uma questão de procurar essa compreensão (...) o
importante é o processo de pensar. Se consigo expressar de modo razoável meu
processo de pensamento por escrito, isso me deixa satisfeita”.
2 A BANALIDADE DO MAL SEGUNDO HANNAH ARENDT
Hannah Arendt presenciou em todas as etapas o julgamento do oficial nazista
Adolf Eichmann na função de correspondente do jornal americano The New Yorker e
também o entrevistou.
A
conduta de Adolf Eichmann ao logo do processo até sua morte por
enforcamento, era de um indivíduo incapaz de realizar o ato de pensar e
constituir um juízo reflexivo e crítico, nas palavras Arendt “o executante era
ordinário, comum, nem demoníaco, nem monstruoso”. Suas palavras, suas
formas de se expressar eram feitas por sentenças prontas, praticamente
robotizadas, por exemplo: minha honra é minha lealdade.
Tamanha era a lealdade do oficial nazista que o fez nunca tomar decisões por si
só, pois era preciso realizar meticulosamente as ordens passadas a ele,
cumprindo dessa forma o juramento irrestrito de fidelidade ao partido que o
nomeara oficial da Gestapo. O mesmo dizia que a cega realização das ordens
proferidas a ele por seus superiores poderia ser colacionada a obediência de um
cadáver, foi ao ouvir isto que Hannah Arendt adotou o termo “banalidade do
mal”.
Neste
diapasão Hannah Arendt, compreendeu haver uma distinção no patamar de
responsabilidade dos chefes do movimento totalitário e dos indivíduos que
executavam burocraticamente todas as ordens que lhe eram incumbidas pela cúpula
nazista. Desta forma, é demonstrado o quanto deveria ser analisado a questão da
ligação entre o pensar e o agir.
Quanto a essa questão (Arendt, 2008):
“Será que a natureza da atividade do pensar, o hábito de examinar,
refletir sobre qualquer acontecimento, poderia condicionar as pessoas e não
fazer o mal? Estará entre os atributos da atividade do pensar, em sua natureza
intrínseca, a possibilidade de evitar que se faça o mal? Ou será que podemos
detectar uma das expressões do mal, qual seja, o mal banal, como fruto do
não-exercício do pensar?”
Inúmeras obras foram escritas sobre Hannah Arendr. É preciso evidenciar que
ainda não é conhecido o suficiente desta mulher que faleceu em 1975. Todos os
seus ensinamentos e obras a consagram como uma das mais autênticas pensadoras
de sua geração, e torna-se imprescindível escutar a sua voz com bem atentamente
no alvorecer desse milênio cheio de incertezas.
A Cultura de Massa (ou “cultura pop”) é o produto realizado
pela Indústria Cultural. Tem o intuito de atingir a massa social, considerando
“massa” em seu sentido de coesão e opacidade.
Portanto, cultura de massas é o meio e o fim pelo qual se
submetem as mais variadas expressões culturais a um ideal comum e homogêneo.
A cultura de massas tem a propriedade de absorver os
antagonismos e transcender distinções sociais, étnicas, sexuais, etárias, etc.,
transformando-os em produtos para o consumo num mundo de consumidores livres.
Cultura de Massa e Indústria Cultural
A cultura de massas está intimamente ligada ao advento da
modernidade. No século XIX, esse termo foi utilizado para fazer antagonismo
entre a educação recebida pelas massas à educação recebida pelas elites
(cultura erudita).
A expressão “cultura de massas” passou a designar também o
consumo de alguns bens e serviços da sociedade industrializada.
O termo, tal como é visto atualmente, especialmente por sua
natureza comercial e manipulativa, consolidou-se após a II Guerra Mundial.
Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973)
fundaram a Escola de Frankfurt (1923) e juntos criaram o termo “Indústria
Cultural”.
Esse termo faz referência aos grandes conglomerados
midiáticos globais detentores dos meios de comunicação de massa. Eles são
utilizados na padronização de produtos, notícias, serviços, etc.
Em suma, a cultura de massas é um produto padronizado e
pré-definido para o consumo imediato. Muitas vezes, é considerado como algo
trivial, tal qual ouvir uma música ou assistir um programa de televisão.
Cultura Erudita e Cultura Popular
Vale lembrar que a cultura de massa é muito distinta da
“cultura erudita” e da “cultura popular”. Entretanto, ela incorpora seus
atributos, banalizando-os e esvaziando-os de seu conteúdo original.
Isso porque ela valoriza somente os aspectos que caem no
gosto da massa e possuem potencial para lucro. Assim, ela oprime outras
manifestações culturais que vão perdendo espaço e legitimação social
paulatinamente.
Cultura de Massa e o Capitalismo
Como vimos, a cultura de massas padroniza e homogeneíza os
produtos. Contudo, isso gera o mesmo efeito nos consumidores, os quais são
induzidos a desejos e necessidades superficiais. Tudo isso tem uma meta muito
clara: as vendas e o consumo.
Desse modo, substitui-se a vasta gama de cultura erudita,
cultura popular e folclórica, por simulações dessas culturas autênticas. Esses
simulacros devem satisfazer um denominador comum, para um consumidor comum.
Isso sugere a simplificação dessas culturas para vendê-las
em larga escala, segundo a lógica do capitalismo industrial e financeiro.
Assume-se que a cultura de massas agrada uma grande maioria
anônima e amorfa de consumidores. Porém, na verdade, ela mascara os interesses
de lucro fácil e garantido para os referidos conglomerados midiáticos mundiais.
Portanto, isso explica o caráter mercantil, alienante e
manipulador da Indústria Cultural. Ela é o principal responsável pela
padronização dos indivíduos em nome do lucro e em detrimento do real valor
artístico do produto.
Cultura de Massa e as Mídias
Outro fato bastante conhecido sobre a cultura de massas é
sua associação aos meios de comunicação de massas.
As inovações tecnológicas, como o cinema, o rádio, a televisão
e, recentemente, a internet, aceleraram ainda mais o processo de homogeneização
cultural. Note que estas inovações foram utilizadas desde os primórdios com
finalidades políticas.
As mídias são as porta vozes da Indústria Cultural e dominam
o campo da comunicação. Elas se tornam sobrevalorizadas em relação aos
receptores das mensagens, legitimando-se e ficando mais forte na mesma medida
em que os receptores se tornam iguais e fracos.
Além de homogeneizar os padrões culturais, os canais
midiáticos são os principais responsáveis pela alienação dos consumidores.
Isso tudo por meio dos produtos culturais em série, os quais
não conseguem mais enxergar toda a cadeia de eventos que envolve a Indústria
Cultural e seu produto: a cultura de massas.